sexta-feira, 29 de outubro de 2010
Papo calcinha
Dia desses li uma materinha, por recomendação de uma amiga, sobre uma praga inventada nos relacionamentos modernos que deram o nome de “namorido”. É óbvio que não estamos falando de um namorado carinhoso e fogoso que divide compromissos do dia-a-dia da amada. Trata-se um sujeito pra lá de folgado que reúne o pior das duas figuras: do marido e do namorado. É um cabra que ocupa a casa da namorada como se fosse da mãe dele, sente-se à vontade para passar o dia e noite dentro de um short xexelento, peida na sua frente sem a menor cerimônia, não fecha a porta quando vai ao banheiro, deixa roupas e sapatos espalhados e, de olho do futebol, pergunta o que tem para comer. Ou seja, a rigor, um marido sem um pingo de noção e adestramento. Paralelamente, a criatura não é muito de sair. Raramente está disposto a ir ao cinema, teatro ou jantar. Não é difícil imaginar que sexo com um ser desses deixa a desejar. Até entendo que existam homens assim. O que não compreendo é como uma mulher pode quer um traste desses. Mas não é esse o ponto mais estarrecedor, a meu ver, abordado no texto. A autora sugere que esse tipo de homem é aceitável, desde que meta uma reluzente aliança no dedo da Amélia. Como é que é? Excuse me! Hein? Vi na parte de comentários que havia quem concordasse com isso. Não pode ser que ainda estejamos tão atrasadas assim. Nunca fui feminista e adoro ser protegida. Entendo o gosto pelo conto de fadas do casamento na igreja, festa espetaculosa, vestidão de noiva, bem-casado... Só não consigo me ver nessa cena. Talvez por ser filha de pais separados ainda no início da década de 80, quando isso era bem incomum. Aos seis anos de idade, fui uma pioneira! Na verdade, as poucas vezes em que pensei no casamento tradicional, fui tomada por uma preguiça danada. Um desânimo... Desperdício de energia, tempo e dinheiro. Mas lua de mel eu acho legal. Por isso, não me casei. Juntei e viajei. Simples assim. E a vida a dois segue bem boa. Até tentei usar aliança, mas não rolou. Incomoda. Eu vivia tirando. Após perder a terceira, deixei isso pra lá. Dedo e alma estão livres. A falta de uma aliança, de um contrato assinado ou da foto em preto e branco na sala lembrando o glorioso dia do “sim” diante do altar me lembra diariamente que a única coisa que me mantém presa ao meu amor é a vontade de estar com ele. E vice-versa. É mais ou menos com se o casamento formal fosse um emprego público e o “juntamento” um emprego no setor privado. No primeiro, a estabilidade contratual leva a uma certa acomodação. É só fazer o básico que está tudo certo. No setor privado, é preciso ser bom todos os dias. Caso contrário, o pé na bunda pode vir a qualquer momento. Se o emprego vale a pena, esforçar-se diariamente para mantê-lo é um trabalho muito prazeroso.
Tá acabando!
Meu mau humor nessas eleições atingiu níveis tão elevados que é até difícil traduzir em palavras. Fui completamente dominada pela campanha do Serra. Estou cheia de ódio e absolutamente intolerante. Exatamente como ele queria, mas pelas razões inversas. Não entendo como um candidato pôde ir tão longe em nome de um projeto estritamente pessoal de poder. O cara botou na cabeça que quer ser presidente do Brasil, não importa como. Parece-me que, em nenhum momento, ele avaliou as consequências de fomentar o ódio religioso, a homofobia, a violência... E como mentiu! Não tenho nenhuma simpatia por Dilma. Mas avalio que sua campanha foi obrigada a despencar o nível para se defender. Afinal, houve sim a tentativa, no início, de fazer um programa focado em conquistas do governo Lula e avanços. Nem vou falar de corrupção em razão do empate técnico. O que mais me irrita e estarrece não é campanha em si, mas a militância da grande imprensa. Senti vergonha de ser jornalista. A cobertura foi tão tendenciosa que alguns jornais, como Folha e Estado de São Paulo, confessaram tardiamente em editoriais o que até o mundo mineral já sabia: eles eram Serra. Tudo bem. Nunca acreditei nessa história de imparcialidade da imprensa. Principalmente por tratar-se de um segmento empresarial com interesses políticos e econômicos bastante definidos, como praticamente todos os outros. Mas o apoio a Serra das quatro famílias que detêm o controle da imprensa no país foi longe demais. Consciente e deliberadamente, os jornalões não se intimidaram em inventar factóides, manipular dados, publicar notícia sabidamente falsa, dar crédito a fontes sem credibilidade nenhuma, omitir informações... Só pra lembrar en passant : ficha falsa de Dilma terrorista (A FSP sabia que era falsa e publicou assim mesmo); a quebra de sigilo fiscal de Verônica Serra (foi só a Carta Capital lembrar que essa garotinha, junto com a amiguinha Verônica Dantas quebraram o sigilo de 60 milhões de Brasileiros, o “escândalo” morreu da noite pro dia, sem qualquer explicação); suposta denúncia na Veja de um suposto empresário que não era sequer funcionário da empresa que negou tudo o que o tal empresário disse que não disse... Um imbróglio daqueles que só a Veja dá conta de fazer. Teve ainda a escandalosa denúncia do empréstimo de R$ 5 bilhões no BNDES que nunca saiu. A fonte desse escândalo foi buscada na cadeia! E por aí vai... A da bolinha de papel assassina vai entrar para a história bizarra do jornalismo brasileiro. Enfim, foi um verdadeiro festival de abuso da liberdade de informação que assisti em estado de choque. Assisti. Não assisto mais. Até para preservar minha saúde física e mental, me limito a dar uma olhadinha nas manchetes dos sites na internet. TV, só a cabo. Warner, Discovery, Universal, Nick... É nos blogs que me informo e me conforto nesses tempos difíceis. Aliás, a internet é grande salvadora dessas eleições. Se por um lado a internet da vazão a panfletos odiosos dos dois lados, por outro, é o antídoto para veneno da grande imprensa, que viu suas historinhas forjadas serem desmontadas com extrema rapidez e competência na blogosfera. Viva a banda larga!
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